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"Quando eu era jovem, chamavam-me de jogador. Depois que a escala de minhas operações aumentou, tornei-me conhecido como especulador. Hoje me chamam de banqueiro. Mas venho fazendo a mesma coisa o tempo todo."
(Sir Ernest Cassell, banqueiro de Eduardo VII)
Uma das principais características da Idade Média, entre os séculos XII e XV, foi a expansão das grandes feiras comerciais, à medida que se desenvolvia o comércio de longa distância. Nelas se trocavam, no atacado, mercadorias vindas de todos os cantos do mundo conhecido. Ao efetuarem as transações, os mercadores precisavam receber diferentes moedas. Foi aí que surgiu o trocador de dinheiro - figura que originou, mais tarde, o banco. Ele ficava numa barraca no centro da feira, onde pesava e trocava muitas variedades de moeda, negociava empréstimos, etc. Precisava inclusive pagar uma taxa ao senhor feudal para exercer essa atividade.
De lá para cá, muitas luas se passaram, e os bancos abandonaram a nobre missão de servir ao capitalismo, para servir-se dele. Entra ano, sai ano, e aqui na terra descoberta por Cabral, a notícia é sempre a mesma: o lucro dos bancos bateu novo recorde. O lucro líquido de quatro dos principais bancos brasileiros foi de R$ 81,5 bilhões em 2019, ou seja, um crescimento de 13,1%, em comparação com 2018, já descontada a inflação.
Para alcançar resultados tão expressivos, enquanto o restante da economia se encontra mergulhada na crise econômica, os bancos têm se valido da estratégia de cortar custos operacionais, remunerar pouco as aplicações financeiras e cobrar juros estratosféricos. Isso é possível porque praticamente não existe concorrência nesse setor. A maior parte dos depósitos, operações de créditos e ativos está concentrada em poucos bancos. Dados do Banco Central (Bacen) mostram que os cinco maiores bancos comerciais brasileiros dominam mais de 80% do mercado.
Nas últimas décadas, os bancos investiram pesado no desenvolvimento de tecnologias bancárias, o que lhes permitiu cortes significativos na folha de pessoal. Posteriormente, a própria revolução tecnológica trazida pela internet, sobretudo pela disseminação do uso de smartfones e aplicativos, favoreceu à redução dos custos bancários. Prova disso é que o número de agências bancárias vem caindo no Brasil. De acordo com dados do Bacen, eram quase 23 mil agências no fim de 2013 - no fim de 2019, eram pouco menos de 20 mil.
Outra característica do sistema bancário brasileiro é o alto spread bancário. O spread bancário é a diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e o que eles cobram para emprestá-lo ao cliente. Segundo o Banco Mundial, O spread bancário brasileiro em 2018, de 39,6%, foi o segundo maior do mundo. Os bancos tentam justificar esse ganho absurdo pela alta inadimplência dos empréstimos no Brasil. Falso. A taxa de inadimplência no setor bancário foi de apenas 3,04% em 2018 e situou-se em torno disso em 2019.
O Bacen anunciou a criação, até o fim do ano, de um sistema instantâneo de pagamentos e transferências (PIX), por aplicativo. Com isso, as abusivas taxas de DOC e TED (de cerca de R$ 20), deixarão de existir. A notícia ruim é que os bancos poderão cobrar por esse serviço, o que é ridículo! Foi a mesma coisa no caso do limite do juro mensal de 8% no cheque especial - o dobro do que a poupança pagou em todo o ano passado - que veio acompanhada da autorização de cobrança, pelos bancos, da taxa de 0,25% sobre o limite do cliente. Tão absurda era a medida que os próprios bancos deram para trás! Conclusão: o Bacen age como croupier do cassino.